segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Passagem

Um tiro no escuro.

Um grito ecoa
pelos becos imundos.

Você sangra e agoniza por horas
e ninguém se importa.

Desespero.
Dor.

Os segundos demoram a passar.
Você, definhando.
Pessoas passam e te ignoram.
Alguns tropeçam em teus sapatos desgastados.
Outros olham com repulsa
ou curiosidade.
Depende.

A ajuda chega tarde demais.
Leva-se a crer que não és digno 
de um tratamento mais humano.

Esse é o seu fim.
Seu maldito fim.
Jogado na sarjeta.
Se contente.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Matemática

Um texto chato, escrito durante uma aula tediosa. Baseado em fatos reais. Não gosto dele. Não o levem a sério. Talvez o exclua depois.

Alegria (não).
O sono me domina.
E ponho-me a examinar as pessoas.

Uma colega ao lado, empenhadíssima em tirar o brilho do nariz, passar blush e escovar suas longas madeixas loiras e lisíssimas.
Um dorme, apoiando a cabeça com a mão, como se estivesse psicografando.
Uma morde o estojo e olha fixamente para o chão.
Um CDF, digo, garoto-dedicado-porém-pouco-humilde encara o quadro sem piscar.
Uma grita histericamente que NÃO ESTÁ ENTENDENDO NADA.
O professor solta um suspiro longo e alto.
E ele. Meu pequeno poeta. Alisando e trançando o cabelo de uma sirigaita coleguinha sentada à sua frente.

Olhe só. Ela veste o casaco dele.
Não estou com ciúmes.
Não estou com ciúmes.
Não estou com ciúmes.

Coça o pescoço de forma displicente e sorri de algo que a coleguinha do lado urrou falou.
Me olha para ver se também estou rindo.
Não, não estou.
Mas me derreto com esse sorriso.
Está frio.
Ainda sinto sono.
Danem-se as matrizes.
Vou ler Cem Anos de Solidão que eu ganho mais.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Esplendor

Faz dois meses desde que partiu e ainda sinto teu perfume floral impregnado em mim. Mantém-se vividamente em minha memória aquela noite. Tu, em esplendor, naquele teu vestido escarlate que contrastava magnificamente com tua pele de mármore. Teus cabelos negros ao vento e teus olhos que brilhavam mais que nunca. Meu Deus. Ainda tenho arrepios ao lembrar-me daqueles mágicos olhos verde-escuros.

Beijei aqueles lábios com toda a doçura e o fervor de que é capaz um ser humano. Acabamos por nos amar. Em meio aos lençóis brancos, o vermelho que manchava o ouro. Fiz-te mulher, mas serás sempre a minha menina.

Aquela mesma menina que adormeceu ternamente sobre meu peito, enlaçando-me com aquelas pequeninas mãos excessivamente brancas.

A mulher que tornastes se foi, deixando apenas as melancólicas lembranças do que um dia foi amor.

E eu, apenas um pobre homem enlouquecido pela paixão avassaladora, passo os dias impaciente, esperando tua volta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Diálogos

- Já tenho tudo planejado para meu futuro. Onde vou trabalhar, onde vou morar, a mulher com quem vou casar...
- Casar?
- Sim! Dessa vez estou realmente apaixonado.


Isso, vá. Continue. Meu coração ainda não está estraçalhado o suficiente.