sábado, 8 de dezembro de 2012

Babaca

Minha melhor amiga está apaixonada
por um cara babaca, de nome estranho.
Não gosto dele.
Ele diz que devo largar os livros um pouco
e oxigenar o cérebro.
Não dá pra esperar muita coisa de uma pessoa assim.
Ela vai sair com ele hoje e está eufórica.
Passou o dia se embonecando
e me pedindo conselhos sobre como agir com ele.
Como se eu tivesse muita experiência nesse ramo.
Meu coração já se fechou há tempos, meu bem.
“Porra, seja espontânea”.
Ela me diz que não deve agir assim ou assado
porque ele pode achá-la vulgar.
Enquanto ela se preocupa com a impressão
que ela vai causar no namoradinho,
eu estou mais preocupada em descobrir quem
matou Laura Palmer.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Angústia

Em passeios solitários ele espera a noite passar. Senta na calçada, ao lado de uma cerveja morna, e observa os transeuntes apressados. Depois se levanta e vaga sem rumo pelas ruas. A atmosfera da cidade parece diferente, mas não tem certeza se a modificação está na atmosfera ou em seu coração.
             
Não consegue escrever há dias. Risca o papel com força, mas de nada adianta. Está angustiado, nauseado. Sente vontade de chorar, mas não consegue. Não suporta mais seus demônios. Algo dentro dele o magoa profundamente. Esse tipo de coisa surgia de vez em quando, mas está se tornando mais e mais frequente.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Onde está o Wally?

Ela se sente só mais uma entre milhões. Uma ordinária, perdida no meio de tantos rostos. Tem fobia de multidões. Não consegue se encontrar no caos. Enclausura-se em seu apartamento abafado. Fecha-se em sua solidão, em sua dor.

Perdera a capacidade de conviver, de socializar. Seu coração está ferido. Busca todas as formas de amor, mas não sabe lidar com isso.

Quando era criança, ela estava sempre buscando pelo homenzinho magrelo de camisa listrada. Agora, pela janela, fica observando as multidões que passam apressadas e tenta imaginar onde estará o Wally. Poderia morar no prédio da frente, quem sabe? Provavelmente já se esbarrou com ele por aí e nem se deu conta.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ligo o som e coloco B. B. King num volume baixo. Deixo só a luz do abajur acesa e fico vendo a chuva bater na janela, encolhida na cama. Tomo uma cerveja e espero a noite passar.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A menina dos olhos verdes

a menina dos olhos verdes
dos olhos mais tristes

a menina que não mais acredita
que está cheia de se sentir vazia
que tem fome, sede, medo

a menina atormentada
que tem uma necessidade quase mórbida de sofrer
pra se sentir viva

a menina do coração ferido
que perdeu o restava do seu amor próprio

a menina dos olhos verdes
a menina perdida

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gosto de enganar os outros, fingindo que não preciso de ninguém. A verdade é que me sinto só. Terrivelmente só. Rôo as unhas até ferir a carne, encho a cara em espeluncas sempre sabendo que não há pra quem voltar. Vago pelas ruas imundas, mendigando carinho. Essa maldita solidão que queima e finjo que não, tentando manter uma postura de mulher digna, mesmo com ares melancólicos. Escuto Van Morrison durante a madrugada insone enquanto fumo um Marlboro e tomo uns comprimidos. Essa tristeza que não vai embora, assim como a insegurança. Só preciso aceitar o fracasso e parar de me culpar. Nem todo mundo tem sorte, nem todo mundo acerta.