terça-feira, 26 de outubro de 2010

Anseio

Beijas meu pescoço.
Teu hálito quente me arrepia.
Tua voz rouca sussurrando banalidades em meu ouvido.
És tão cruel.
Enlouquece-me e larga-me.
Um minuto de distração e escapas
para os braços de outras.

Será que não vê
que morro de vontade de te ter?

sábado, 23 de outubro de 2010

Existência vazia

Sinto-me só.
Uma solidão que me consome.
Muitas pessoas em volta.
Ninguém para me abraçar.
Ninguém para me entender.
Ninguém para me amar.

Sinto-me vazia por dentro.
Sinto-me sem vida.
Uma alma vagando sem rumo,
pelas estradas imundas.
Arrastando-me, vou sobrevivendo.

Vou definhando lentamente,
perdendo o vigor.

Não vejo mais as cores, os sons,
a beleza.

Sinto-me desprezível
Sinto-me imprestável

Não vejo mais razão
Não vejo mais sentido
Não vejo mais motivos

Perdi minha fé
Perdi minhas esperanças

Acabou-se.
Acabou-se.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Contradição

Meus sentimentos são uma contradição.
Eu sou uma contradição.

Ora quero-te ao meu lado
ora quero-te à distância.

Ora amo-te
ora odeio-te.

Ora quero que compreenda-me facilmente
ora quero que encara-me como uma complexidade.

Ora sou amigável
ora sou fria como gelo.

Ora sou alegre e eloqüente
ora sou taciturna.

Ora sou afetuosa
ora sou agressiva.

Ora quero beijá-lo
Ora quero estapeá-lo.

Será que pensas que sou louca?
Apenas quero o seu carinho.
Sou apenas uma pobre alma reprimida e solitária,
carente do seu amor.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Amor platônico

Meus olhos cansados vagam
pela sala branca claustrofóbica.

Por entre as pequenas cadeiras azuis,
avisto seu rosto.

Tens um olhar perdido.
Provavelmente sonhas com sua musa.

Levanta-se bruscamente
e passas por mim,
ignorando-me solenemente.

Admiro-o à distância.
És tão belo.
Nunca serás meu.

domingo, 10 de outubro de 2010

Cenas monótonas da vida de Cecília Sobral

Cecília desperta com o chiado irritante da estação fora de ar de seu rádio relógio. 6:10. Levanta e arrasta-se até o armário. Veste-se languidamente e passa uma maquiagem bem leve, apenas para esconder as olheiras arroxeadas e a cara de cansaço, causados por uma noite mal dormida.  6:30, dá uma folheada numa revista qualquer, largada em sua mesa de cabeceira.

Distraída, dá-se conta de que perdera a hora. Já são 6:57 e sua aula começa em míseros 8 minutos. Saí apressada, ouvindo sermão de sua mãe. Tenta abafar com fones de ouvido, ao som de Joy Division .

Chega ao colégio, a aula já iniciada. Acena para algumas pessoas e dá um risinho sem-graça, enquanto busca um lugar isolado, no fundo. Aula de Química. Oh, tédio! Puxa de sua bolsa um exemplar surrado de "Eugénie Grandet". Balzac conforta-lhe emocionalmente.

No intervalo, senta-se com algumas colegas. “O reggae ontem foi massa!”, uma comenta. “Vei, Karen, aquela periguete, pegou 3!”, outra complementa. Cecília, em meio à conversa absurdamente ‘interessante’, divaga em seus pensamentos. Tudo o que ela mais queria era ter um amigo que lhe compreendesse e tivesse gostos similares. Ao sinal, volta melancolicamente para a sala de aula.

Após duas longas aulas, Cecília vai almoçar sozinha em um café próximo ao colégio. Come um pastel e toma um cappuccino. Terá agora uma prova de Matemática e precisa voltar. O problema é que, decididamente, ela não nasceu para Ciências Exatas. Na verdade, nem sabe para que nasceu. Não tem nenhum talento nato. Gosta apenas de ler, ver filmes e ouvir música. Vez ou outra arrisca um poema medíocre, visando apenas se encontrar. Isso não lhe levará a nada, dizem-lhe.

Termina sua prova e se vai. Senta-se num banquinho, em frente ao colégio, enquanto espera sua mãe. Coloca então seus fones de ouvido. Radiohead. Fones são o seu meio de se esquecer do mundo real, pelo menos por um curto período de tempo. Pensa em seu futuro, ou na sua falta de futuro. Com notas tão baixas Matemática como conseguirá passar numa faculdade decente? A pressão que seus professores fazem beira o insuportável.

Finalmente em casa, atira suas coisas num canto e liga a televisão. Lúgubre, não conseguirá estudar. Pega, então, seu DVD de "Os Incompreendidos" e o assiste pela milésima vez.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Como pode ser tão pérfido?

Acabou.
Sim, acabou. Eu sei.

Terminou, como se nunca tivesse começado.
Nunca tivesse acontecido.
Não significou nada para você.
Não teve a mínima importância.

Tanto tempo, tanta estória,
tantos sonhos.
Perdidos.

Como pode ser tão insensível?
Como pode ser tão cruel?
Como pode ser tão mesquinho?

Sabia que, cedo ou tarde, tudo teria fim.
Apenas não imaginava que seria assim,
de modo tão brusco, tão pífio.

Você e seu prazer sórdido de me ver sofrer.
É isso o que você quer? Me ver exausta e envelhecida?
Sua ironia desprezível me enoja.

Sabe o que mais me incomoda?
Eu te amo.
Eu te amo perturbadoramente.
Provavelmente, meu coração cansado ainda te amará até o fim de minhas forças.

Você não soube me amar.
Iludiu-me e eu, apenas uma garotinha sonhadora e inexperiente,
acreditei.
Acreditei cegamente.

Nunca mais amarei.
Estou desiludida.
E a culpa é sua.
Você acabou com todos os meus sonhos infantis,
toda a beleza da minha inocência.
Você acabou comigo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Perdendo minha dignidade

Na noite busco um meio de te esquecer.
A dor que sua partida me proporciona é insana.

Entro num bar e peço tequila.
Bebo, enquanto
ofereço-me à estranhos de maneira lasciva.
Anseio voltar para casa com alguém.
Qualquer um serve.
Alguém com quem dividir a cama fria.

Uma busca desesperada
apenas para me esquecer de ti.

Na manhã seguinte
abro os olhos.
Sinto minha cabeça latejar.
Minhas têmporas pulsam violentamente.
São 11:30 da manhã
e aquele homem deitado ao meu lado,
que pousa a mão sobre meu ventre, não é você.

Lembranças suas ainda me perturbam.
Sinto falta de seus beijos amargos,
seu hálito de tabaco.

Enquanto procuro um comprimido, choro de desespero.
Nunca imaginei que sua ausência me mataria.
Olho-me no espelho.
Minha maquiagem borrada da noite anterior
acentua minha mediocridade.
Minhas olheiras cada vez mais profundas.
Tenho nojo de mim mesma.

Por que não procuro uma saída mais madura?
Por que não aceito simplesmente que você se cansou de mim?
Por que preciso agir como uma puta?